domingo, 19 de dezembro de 2010

LÁ VEM O GATO



Tudo aconteceu quando o meu felino de estimação invadiu a casa da vizinha para obter um pedaço de carne, o que era para ser apenas um final de semana comum tornou-se uma verdadeira temporada de caça ao gato. Tarde de domingo, dia de comer macarrão, fazer um churrasco, reunir a família para uma linda confraternização e assistir futebol às quatro da tarde na TV, resolvemos ficar em casa, esquecer a semana cansativa, o chefe, as dividas e os problemas. Mas nem tudo que planejamos segue conforme o planejado, enquanto todos nós assistíamos a turma do Didi, o animal de quatro patas, pelos preto e branco, olhar amarelo e unha afiada (nosso bicho de estimação) ultrapassou o limite do portão, da casa do lado é claro! Quando chegou ao local, não havia nenhum Guarda - diurno, os alarmes estavam desativados e a televisão ligada, olhou para um lado e para o outro e... Com seus passos de gatuno revisou a cozinha inteira, pléc... Olhou os armários, pléc... Embaixo da pia, pléc... A geladeira, pléc... Até o fogão, mas era em cima da pia que estava o objeto de valor apreciado pelo pequeno ladrãozinho. Dentro de uma vasilha, cortado em grande pedaço, bem temperado estava o filé, com sua cor avermelhada, brilhante feito um diamante, parecendo vestido em loja de esquina e pronto para ser devorado. “Isso vai ser mais fácil do que roubar doce de uma criança”, devia ter pensado o bichano, e como bom profissional que é, subiu em cima da cadeira, pléc, passando em seguida para o cesto de fruta do lado do fogão, pléc, que serviu de ponte para a pia, pléc... Agarrou a jóia, ou melhor, a carne, pléc... Fez o mesmo percurso para voltar, deixando rastros saiu pela porta da cozinha, pléc...
- Eu sabia que tinha alguém na minha cozinha, estava ouvindo os barulhos! – Gritou minha vizinha.
- Minhau! – Miou o gato olhando para trás.
- Devolve isso, seu filho da mãe!
Antes que ela desse o primeiro passo o gato já correra em direção ao portão, porém o portão estava trancado. E agora? Como fugir? Pensou em várias coisas, pular o muro, entrar pelo esgoto, passar pela caixa do correio... Mas foi esconder-se atrás da roda do carro que foi sua brilhante idéia.
A mulher desesperada não viu o bichinho, então veio em casa e nos chamou. “É preciso que vocês encontrem a minha mistura”, esbravejou ela com um pano na cabeça. Como eu era o proprietário do felino, tinha mais que obrigação de encontrá-lo e trazer o pedaço de carne são e salvo. Vesti meu uniforme de super-herói, chinelo havaianas, short de futebol e camiseta com um furo na gola (de tanto morder) e chegando ao local (a casa da vizinha) fui observando todas as possíveis rotas de fuga, perguntei quando foi a última vez que ela o viu (uma pergunta idiota para entrar no clima), pedi uma descrição detalhada da carne, fiz a perícia no local do crime, e nada. Já ia preparando o cheque para pagar a conta, porque carne na mão de gato é igual dinheiro na mão de mulher, não dura dois minutos. De repente, ouvi um barulho bem forte do lado de fora... Era rojão (Deveria ter chegado drogas na cidade), em seguida na árvore soou um barulho muito suspeito... Eram duas pombinhas trombando o bico. Eu olhava no telhado, nas janelas, em todos os pontos altos da casa, e nada. Vasculhei o quartinho do fundo, as telhas jogadas, os blocos próximos à parede, e nada. Pensei em correr, entretanto não seria uma boa idéia, já que ela morava ao lado, pensei em dar uma paulada na cabeça dela, mas isso me faria um criminoso também, cheguei até a planejar um assassinato do gato, em seguida retirar a carne e dar para ela como pagamento, entretanto, carne de gato não era igual filé. Depois de cinco minutos de discussões e negociações resolvi pagar e ir embora, porém foi na saída da garagem, que observei. Há alguma coisa errada por aqui! Com o nariz arrebitado para o alto fui farejando, até que... Do lado direito da roda traseira da Caravan estava o desgraçado do animal, o bicho era tão ingênuo que nem reparou que setenta por cento do seu corpo estava para fora (É que o gato tinha um rabo meio grande), cheguei de mansinho, peguei um cabo de vassoura e paff... Mandei com tudo nas costas do bichano.
- miaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaau! – Miou o gato, deixando a carne e correndo em direção à minha casa.
- Volta aqui seu danado, você vai aprender a nunca mais roubar carne na casa dos outros! – Gritava eu com o cabo de vassoura na mão no meio da rua.
A carne ainda estava intacta, apenas com dois furos no lado superior, além de umas unhadas na parte inferior. A vizinha aceitou a carne de volta e devolveu meu dinheiro. Eu todo sorridente voltei para o meu humilde lar, onde poderia deitar novamente no sofá e esperar sem muita ansiosidade ao início do jogo. E o gato? Ah, o gato está nesse exato momento no meu colo, depois daquela surra ele voltou a assaltar a vizinha duas vezes, sendo vitorioso na primeira, assaltou a oficina, a padaria, o açougue, a casa do padre, o asilo e... Minha casa, afinal o gato é considerado um animal irracional não sabe o que faz. Peraí! Cadê meu bife que estava em cima da mesa? Bichanooooo!


                                                                                    (Jucinei Rocha dos Santos - 2010)

2 comentários:

  1. É... Esse aí eu li em primeira mão!!!

    Muito bom cara.

    Em breve quero um roteiro seu... :D

    Até... Boas Férias

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