quinta-feira, 15 de novembro de 2012

BOAS LEMBRANÇAS



Às seis horas da tarde o telefone toca.
- Alô!
- Boa tarde, João.
- Boa tarde, mas quem é que está falando?
- É o seu primo José, aqui do interior de São Paulo.
- Ah, José! Tudo bem contigo?
- Sim, João, comigo está tudo ótimo graças a Deus, e você como está?
- Aqui tá bom também, a colheita não está aquelas coisas, mas dá pra passar o ano.
- Hum! Legal.
- Então, por que você me ligou essa hora da tarde?
- Bom, João... Sabe o que é?
- Desembucha!
- É que seu pai está muito doente, os médicos já perderam as esperanças, até mandou ele de volta pra casa pra passar os últimos dias com a família e ele quer te ver rapaz.
- Ele está tão grave assim?
- Sim. O câncer já se alastrou por todo o seu corpo, ele nem consegue andar, até necessita de cadeira de rodas.
-...
-...
- José?
- Pode falar, João!
- Eu não irei vê-lo não.
- Mas como assim? Eu acabei de te dizer que ele está nos últimos dias de vida!
- Eu sei!
- Cara, ele falou que era uma das últimas vontades que ele tinha antes de morrer!
- Eu sei João, eu sei...
- Então, por que você não quer ver seu pai?
- José, sabe quantos anos faz que não o vejo?
- Não, não tenho a mínima ideia.
- Faz mais de vinte anos.
- Olha só, e você não tem saudades dele?
- José, não tem dia que eu não penso nele e na minha finada mãe.
- Então João, vem pra cá logo, antes que seja tarde demais!
- Não irei não, José! Sabe por quê?
- Não, me diga!
- Sabe como meu pai era antes de eu partir pra São Paulo?
- Não.
- Ele era forte. Sozinho conseguiu sustentar toda nossa família. Nós éramos dez irmãos, o mais velho tinha quinze anos. Com raça, esforço e força ele conseguiu trabalhar em dois lugares durante quinze anos para que a gente tivesse a vida que temos hoje.
- Nossa! Ele era muito forte mesmo, sempre ouvia minha mãe dizer.
- Pois é.
- Mas, ainda não entendo por que você não quer vir, já que ele fez tudo por vocês.
- Quando eu era Jovem, eu vi meu pai forte, jogando futebol nos campeonatos aqui do nordeste.
- Sei.
- Ele levantava mais de cem quilos de feijão para jogar nos caminhões, conseguia atravessar correntezas só na braçada.
- Hum...
- Ele pagou todo o meu casamento, além de ajudar a construir minha casa. Todos os anos mandava presente para meus filhos.
-...
- Ele sempre foi um exemplo pra mim de determinação, força e coragem.
-...
- Já o vi brigando com ladrões que invadiram nossa casa e acredite, ele fez mais de quatro homens encapuzados correrem.
- Nossa!
- José, as lembranças que tenho do meu pai são ótimas. Em todas ele é um homem saudável, forte, cheio de vida e saúde.
- Sim...
- E é dessa maneira que quero tê-lo na minha memória, por isso não irei ai visitá-lo.
O telefone é desligado e as lágrimas correm ao redor do rosto. Na rádio é tocada mais uma moda de viola.

“Viemos nesta manhã de sexta-feira, dia 15 de novembro de 2012, comunicar o falecimento do ex-funcionário público, o senhor Sebastião da Silva, ele tinha câncer no pulmão e os médicos já o haviam mandado de volta para sua casa, pois as possibilidades de cura era praticamente zero. Ele era viúvo e deixa dez filhos e quinze netos, além de irmãos e primos...”.
                                                    (Jornal da cidade, 15 de novembro de 2012)


Jucinei Rocha dos Santos, 15 de Novembro de 2012.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O RIO GRANDE


    
Oh! Minas Gerais!
Oh! Minas Gerais!
Quem te conhece
Não esquece jamais
Oh! Minas Gerais!

      Minas Gerais, além de ser o quarto maior Estado Brasileiro, o segundo mais populoso e possuir o terceiro maior Produto Interno Bruto do País, foi também cenário para muitos fatos históricos, incluindo a Inconfidência Mineira, a Revolução de 1930 e o Golpe Militar de 1964. Mas não é isso que quero enfatizar, como já diz o hino, Minas é uma terra inesquecível, dificilmente alguém passaria por esse estado sem levar consigo uma recordação, no meu caso foi na fronteira com o Estado de São Paulo. 
      Havia um buraco na carroceria do caminhão, pelo qual eu conseguia ver as placas, as árvores, o asfalto e os morros, foi por ele também que consegui ver aquele imenso rio, que por sua grandeza, sua beleza, sua firmeza me deixava encantado. Suas pontes pareciam intermináveis, as matas ao seu redor desapareciam, os pássaros até sorriam ao passar por essa perfeita obra de Deus, e dentro daquele caminhão eu contemplava a sua grandeza, nunca tinha visto nada igual. Como podia ter tanta água naquele lugar sendo que no nordeste muitas pessoas, animais e plantas morriam por causa da seca.

      - Ô pai! um dia vai tê tanta aga axim na nota terra?
      - Só Deus sabi, meu fi, só Deus sabi.                                
              
      Eu acompanhava tudo, nem sequer piscava os olhos ao passar por aquela obra prima chamada Rio Grande, nada ficava despercebido, nem as capivaras que corriam para o meio do mato, as barragens, os fios elétricos, os canteiros da ponte e os carros. Cada detalhe, cada novidade, observava tudo como um cientista, queria conhecer esse novo mundo, essa nova terra e à medida que a ponte ia se acabando meus sonhos aumentavam, minha infância mudava, minha mente viajava e minha vida se transformava.

Teus regatos te enfeitam de ouro.
Os teus rios carreiam diamantes
Que faíscam estrelas de aurora
Entre matas e penhas gigantes.

Tuas montanhas são preitos de ferro
Que se erguem da pátria alcantil !
Nos teus ares suspiram serestas.
És altar deste imenso Brasil !

                             (JUCINEI ROCHA DOS SANTOS - 2010)


A DESPEDIDA



O vento misterioso
Não consegue assoprar a dor
A dor da lembrança
A dor da saudade
A dor da perca.

O cérebro, totalmente consciente
Tenta de forma metódica
Disfarçar os sentimentos
A boca sorri
Os olhos vêem o invisível
O corpo para, apenas para...

Ao redor, amigos e família
Ao desredor a tristeza, a solidão
Que aos poucos corrompem a mente
Tornando-a fria e calculista
Impermeável ao sentimentalismo
Disfarçável aos conteúdos falados
Cega às imagens refletidas.

Mas a pedra não resiste
Aos pingos molhados da partida
E de forma incontrolável
Despedaça-se
Rompendo com todos os conceitos da física
De que o material não pode ser quebrado
Pelo sentimental.

Eis que vem o choro!

      (JUCINEI ROCHA DOS SANTOS - 29 DE OUTUBRO DE 2011)

terça-feira, 9 de outubro de 2012

VOTE EM MIM


Você pode até não me conhecer
E sequer ter visto meu trabalho
Mas venho até aqui pedir um pouquinho da sua confiança

Não vou dizer que serei o melhor
Que não irei errar
Muito menos fazer-lhe milhões de promessas
Porém, prometo trabalhar.
Trabalhar pelo nosso futuro
Por nossa felicidade
Fazer com que nossa vida
Seja repleta de alegrias.

Mas para que isso aconteça
Eu preciso de sua ajuda
Eu sozinho não posso ir a lugar nenhum
Mas juntos poderemos conquistar impérios
Juntos, poderemos navegar por todos os sete mares.
Juntos, seremos imbatíveis.
E vivendo juntos, nada... Mas nada poderá nos impedir de conquistar.

Por isso venho aqui humildemente
Pedir o seu voto.
Não jogue ele fora como fazem milhões de pessoas
Não venda ele por pequenas coisas materiais
Não o anule, pois assim você estará desperdiçando a chance de nossa vida.
Vote consciente.
Vote confiante
Vote pela gente
Vote. Avante!
Vote em mim.
Vote em mim.
- Vote em mim para amor da sua vida!

                               (Jcinei Rocha dos Santos - 2012)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A ROSA VERMELHA


As ruas enfileiradas
Nas noites turbulentas de pesquisas
Roupas variadas
Que expressam pensamentos
Pessoas egoístas
Buscando ideais desnecessários
Carros confortáveis
Expirando pequenos lixos comerciais
E em frente ao portão central
A rosa vermelha
Regada
Cuidada
Conservada
(Como ela brilhava)
Luzia em plena luz da lua
Perfumava o pátio escuro
Enfeitava o ambiente grotesco
Ainda não abandonado pela poesia
Vivida
Escondida
Perdida
Em meio ao futuro.

                                  (JUCINEI ROCHA DOS SANTOS - 2012)


QUERO MUDAR O MUNDO




Quero mudar o mundo
Encher os pequenos corações de esperança
Trazer paz aos sofredores
Restaurar os sonhos dos desiludidos da vida.

Quero transformar o mundo
Ajudar as pessoas mais necessitadas
Transmitir conhecimento aos leigos
Influenciar uma geração de jovens pensadores.

Quero restaurar o mundo
Começando com os pequeninos
Mostrando que os erros do passado
Podem ser evitados no futuro
As lutas enfrentadas diariamente
Não serão em vão
Os esforços da vida
Serão generosamente recompensados
Os sonhos sonhados
Já fazem parte da realidade
E o temido futuro
Pode não surpreender.

Eu quero calar esse mundo
Pessimista, incrédulo, determinista...
Destruidor de pequenos sonhadores
Assassino de mentes brilhantes
E corações apaixonados...

Eu quero mudar o mundo
- Mas primeiro preciso mudar a mim mesmo!

                                           (Jucinei Rocha dos Santos - 2012)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A FILA ANDA


- Mãe!
- O que foi meu filho?
- Falta muito pra chegar a nossa vez?
- Falta não, já já o doutor chama.
- É que to sentindo uma dorzinha aqui, ela tá muito forte, mãe!
- Mostra pra mim. É aqui é?
- É sim mãe.
- Aguenta firme que ele já vai atender a gente.
- Mãe, olha só o tanto de gente que tem na nossa frente!
- Eu sei João, mas temos que esperar. Aqui eles não deixam criança passar na frente.
- Nem quando é pequeno igual a mim?
- Não. Muitas dessas pessoas estão aqui desde à tarde para conseguir uma vaga.
- É errado né mãe? Deveriam passar as crianças na frente.
- Sim, é verdade, mas fazer o que néh?
- Éh...
...............

- Oh moça! Que horas esse doutor vai chegar?
- Minha senhora, já era pra ele estar aqui há mais de duas horas. Eu não sei o que aconteceu!
- Não tem nenhum outro ai não, é que meu filho está passando mal.
- Sinto muito, mas a ordem é não passar ninguém na frente.
- Mas ele está ficando vermelho e eu não sei o que fazer! Me ajuda pelo amor de Deus!
- Sinto muito. Ordem é ordem. Aguarde no seu lugar!

...................
- Filho, aguenta firme, tá?
-Tá bom mãe.
- Cobre com esse pano aqui. E encosta a cabeça no meu ombro.
- Obrigado mãe, estou bem melhor.
(A mãe dá um beijo na testa do filho)
- Mãe?
- O que foi João, está com fome?...
- Não, eu quero dormir, estou muito cansado.
- Pode descansar meu filho, encosta mais perto da mãe, encosta.
- Tá bom.
- Melhorou?
- Sim, está bem melhor.
(A mãe olha para o relógio e balança a cabeça negativamente)
- E esse doutor que não chega logo viu, já são quatro horas da madrugada e nada de aparecer alguém nesse pronto socorro!
- Bença mãe, to cansado.
-Deus te abençoe meu filho. Dorme com Deus.
- Amém fica com Deus também.
- ...

“Morre no dia 05 de setembro de 2012 o menor de idade João da Silva. O garoto tinha apenas oito anos de idade e faleceu no pronto socorro municipal enquanto esperava o médico. Ele estava no colo de sua mãe, a senhora Maria da Silva que em depoimento a polícia diz que esperou na fila durante 6 horas. A polícia ainda investiga o caso e procura ver quem são os verdadeiros culpados pela morte de mais uma inocente vítima da má organização da área da saúde em nosso país.”
(Jornal da cidade, 05 de Setembro de 2012)



Jucinei Rocha dos Santos, Monte Azul, 05 de Setembro de 2012.


quinta-feira, 26 de julho de 2012

UMA LIVRARIA DIFERENTE



Às cinco da tarde o telefone toca.
- Alô!
- Alô, quem ta falando?
- Jorjão, aqui é o Mané do São Sebastião.
- E ai velho, beleza?
- Oh! Tudo na paz.
- Hã...
- Mano, liguei para ver se você ainda tem aqueles livros pra vender.
- Meu! O que mais tenho aqui em casa é livro. (Risadas)
- Tu tá ligado que me amarro pra caramba em uma literatura clássica né?
- Sei sim! Semana passada tu levou quase toda a obra do Shakespeare.
- Só que essa semana vou levar um pouco das obras românticas, o que tu tem ai pra mim?
- Caro Mané, como alguns playboys vieram essa semana aqui e levaram quase todas as obras só terei José de Alencar e Casemiro de Abreu, serve?
- Não é o que estava procurando, mas dá pro gasto!
- Semana que vem chega uma remessa de obras realistas e naturalistas, tipo Machado de Assis, Eça de Queiroz, Aluizio de Azevedo, Raul Pompéia, até Adolfo Caminha, acredito eu.
- Bom... Muito bom mano!
- Que horas posso passar aí pra buscar?
- Velho, vou fazer uns corre agora e só to aqui lá pras dez, algum problema?
- Não mano. Dez e quinze to ai.
- O negócio é o seguinte Mané, meu superior ta embaçando e tu terá que pagar tudo a vista.
- Oloco, mas por que toda essa burocracia?
- É que a semana passada uns Nerds do Jardim Itamaraty levaram os estoques das obras modernas e pós-modernas e não pagaram.
- Hum... Complicado hein?
- E como é! Quase perdi minha vida.
- Não é da minha conta mano, mas o que eles levaram?
- Hum...Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles, Marina Colasanti, Luiz Fernando Veríssimo, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, José Saramago...
- Nossa! Os caras estão inspirados, hein?
- O que eu achei estranho é que todo mundo ta falando dos livros da Clarice Lispector e do Caio Fernando Abreu, mas não levaram nenhum deles.
- Verdade mano, to vendo até nas redes sociais, achei que você tinha vendido tudo.
- Não! Esses são caros, já que a procura é maior.
-Hum...
- E como eles não tem disposição para adquirir e ler o material eles recitam pequenas frases, mesmo sem ter lido o livro inteiro.
- É foda meu.
- Mas mano, vou te deixando por aqui já que agora vou repassar os clássicos da semana passada.
- Pode crer, te espero aqui às dez e quinze então.
- Firmeza mano, é nóis.
- Abraço moleque, manda um abraço pra galera ai do São Sebastião. Precisar de nós tamo ai.
- Pode deixar, falou!
- ...



“Na noite desse sábado, 21 de abril de 2001, a polícia militar prende uma quadrilha organizada de traficantes de drogas. A polícia vinha grampeando as ligações desde o mês passado, inclusive as gravações serão divulgadas no noticiário das nove, e através dessas escutas telefônicas conseguiram achar o paradeiro dos criminosos. Os traficantes foram presos na cadeia municipal onde esperam pela sentença.”
                                                              (Jornal da Cidade, 21 de Abril de 2001)









                                                            Jucinei Rocha dos Santos, 26 de Julho de 2012