domingo, 26 de dezembro de 2010

NEGÓCIOS À PARTE


“Roberto Justus é um dos principais empresários de comunicação do país. Ele comanda o Grupo Newcomm, sócio do inglês WPP, maior grupo de publicidade do mundo”.
                                                                                                    (Revista Você S/A, 2009)

Sem dúvida alguma, Roberto Justus é um bom exemplo a ser seguido. Conseguiu, como poucos, o seu lugar ao sol, lutou, estudou, cresceu, investiu, e hoje é um mega empreendedor. O que poucos sabem é que, ele serviu de inspiração para um grande empresário brasileiro (O qual prefiro não citar o nome) na construção de sua empresa. Esse homem iniciou sua vida profissional no serviço público, durante seis anos foi Técnico Saneador de Vias Públicas, como não ganhava o suficiente para o sustento de sua família, resolveu atuar em outra área. Auxiliar de mestre de obras foi sua escolha, emprego no qual não demorou muito para subir de cargo, tornando-se um dos melhores auxiliares de serviço de engenharia civil do estado. Entretanto, não era a vida que ele sonhava, e como muitas pessoas, ele teve que tomar uma atitude um pouco arriscada, abandonar tudo e investir em outra área, e na primeira semana foi chamado para trabalhar em uma pequena empresa como Especialista em Logística de Documentos, era um trabalho muito corrido, passava uma boa parte do dia nas filas do banco, em cartórios, escritórios, às vezes sua bicicleta furava o pneu e como um bom funcionário, fazia seus deveres a pé. Um ano depois, resolveu fazer um curso básico de informática, quem sabe assim não conseguia pelo menos uma posição melhor na empresa? Acreditam que a idéia deu certo? Como ele já estava expert no Word e no Excel, seu chefe o convidou para ser Especialista em Marketing Impresso, e em questão de dois meses, ele bateu o Record de folhas impressas, tornando-se o mais rápido e eficiente na sua área. Mas ele queria mais, sonhava em sem um micro empresário, como já havia guardado muito dinheiro no seu porquinho (que ficava embaixo da cama), resolveu investir em outro ramo, com a ajuda de alguns amigos, construiu uma casa noturna, que ficava um pouco afastada da cidade, como precisava de funcionários, contratou as melhores Especialistas em Entretenimento Masculino do mercado e em menos de um mês estava ele nos jornais, nas revistas, rádio e até televisão, se tornou um mega Supervisor dos Serviços de Entretenimento Masculino, conquistando um público altíssimo em todo o país. Como vivemos em um país em que toda celebridade acaba virando político, resolveu se candidatar também, logo na sua primeira candidatura se tornou o Deputado Federal mais votado, e logo no primeiro mandato tornou-se um excelente Técnico em Redistribuição de Renda. E hoje... Ah! Hoje ele é querido, amado, adorado e ovacionado pelo povo, afinal ele é gente boa.




                                                                                    ( Jucinei R. Santos - 2010 )




*Ilustração - Marcos guilherme

domingo, 19 de dezembro de 2010

LÁ VEM O GATO



Tudo aconteceu quando o meu felino de estimação invadiu a casa da vizinha para obter um pedaço de carne, o que era para ser apenas um final de semana comum tornou-se uma verdadeira temporada de caça ao gato. Tarde de domingo, dia de comer macarrão, fazer um churrasco, reunir a família para uma linda confraternização e assistir futebol às quatro da tarde na TV, resolvemos ficar em casa, esquecer a semana cansativa, o chefe, as dividas e os problemas. Mas nem tudo que planejamos segue conforme o planejado, enquanto todos nós assistíamos a turma do Didi, o animal de quatro patas, pelos preto e branco, olhar amarelo e unha afiada (nosso bicho de estimação) ultrapassou o limite do portão, da casa do lado é claro! Quando chegou ao local, não havia nenhum Guarda - diurno, os alarmes estavam desativados e a televisão ligada, olhou para um lado e para o outro e... Com seus passos de gatuno revisou a cozinha inteira, pléc... Olhou os armários, pléc... Embaixo da pia, pléc... A geladeira, pléc... Até o fogão, mas era em cima da pia que estava o objeto de valor apreciado pelo pequeno ladrãozinho. Dentro de uma vasilha, cortado em grande pedaço, bem temperado estava o filé, com sua cor avermelhada, brilhante feito um diamante, parecendo vestido em loja de esquina e pronto para ser devorado. “Isso vai ser mais fácil do que roubar doce de uma criança”, devia ter pensado o bichano, e como bom profissional que é, subiu em cima da cadeira, pléc, passando em seguida para o cesto de fruta do lado do fogão, pléc, que serviu de ponte para a pia, pléc... Agarrou a jóia, ou melhor, a carne, pléc... Fez o mesmo percurso para voltar, deixando rastros saiu pela porta da cozinha, pléc...
- Eu sabia que tinha alguém na minha cozinha, estava ouvindo os barulhos! – Gritou minha vizinha.
- Minhau! – Miou o gato olhando para trás.
- Devolve isso, seu filho da mãe!
Antes que ela desse o primeiro passo o gato já correra em direção ao portão, porém o portão estava trancado. E agora? Como fugir? Pensou em várias coisas, pular o muro, entrar pelo esgoto, passar pela caixa do correio... Mas foi esconder-se atrás da roda do carro que foi sua brilhante idéia.
A mulher desesperada não viu o bichinho, então veio em casa e nos chamou. “É preciso que vocês encontrem a minha mistura”, esbravejou ela com um pano na cabeça. Como eu era o proprietário do felino, tinha mais que obrigação de encontrá-lo e trazer o pedaço de carne são e salvo. Vesti meu uniforme de super-herói, chinelo havaianas, short de futebol e camiseta com um furo na gola (de tanto morder) e chegando ao local (a casa da vizinha) fui observando todas as possíveis rotas de fuga, perguntei quando foi a última vez que ela o viu (uma pergunta idiota para entrar no clima), pedi uma descrição detalhada da carne, fiz a perícia no local do crime, e nada. Já ia preparando o cheque para pagar a conta, porque carne na mão de gato é igual dinheiro na mão de mulher, não dura dois minutos. De repente, ouvi um barulho bem forte do lado de fora... Era rojão (Deveria ter chegado drogas na cidade), em seguida na árvore soou um barulho muito suspeito... Eram duas pombinhas trombando o bico. Eu olhava no telhado, nas janelas, em todos os pontos altos da casa, e nada. Vasculhei o quartinho do fundo, as telhas jogadas, os blocos próximos à parede, e nada. Pensei em correr, entretanto não seria uma boa idéia, já que ela morava ao lado, pensei em dar uma paulada na cabeça dela, mas isso me faria um criminoso também, cheguei até a planejar um assassinato do gato, em seguida retirar a carne e dar para ela como pagamento, entretanto, carne de gato não era igual filé. Depois de cinco minutos de discussões e negociações resolvi pagar e ir embora, porém foi na saída da garagem, que observei. Há alguma coisa errada por aqui! Com o nariz arrebitado para o alto fui farejando, até que... Do lado direito da roda traseira da Caravan estava o desgraçado do animal, o bicho era tão ingênuo que nem reparou que setenta por cento do seu corpo estava para fora (É que o gato tinha um rabo meio grande), cheguei de mansinho, peguei um cabo de vassoura e paff... Mandei com tudo nas costas do bichano.
- miaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaau! – Miou o gato, deixando a carne e correndo em direção à minha casa.
- Volta aqui seu danado, você vai aprender a nunca mais roubar carne na casa dos outros! – Gritava eu com o cabo de vassoura na mão no meio da rua.
A carne ainda estava intacta, apenas com dois furos no lado superior, além de umas unhadas na parte inferior. A vizinha aceitou a carne de volta e devolveu meu dinheiro. Eu todo sorridente voltei para o meu humilde lar, onde poderia deitar novamente no sofá e esperar sem muita ansiosidade ao início do jogo. E o gato? Ah, o gato está nesse exato momento no meu colo, depois daquela surra ele voltou a assaltar a vizinha duas vezes, sendo vitorioso na primeira, assaltou a oficina, a padaria, o açougue, a casa do padre, o asilo e... Minha casa, afinal o gato é considerado um animal irracional não sabe o que faz. Peraí! Cadê meu bife que estava em cima da mesa? Bichanooooo!


                                                                                    (Jucinei Rocha dos Santos - 2010)

sábado, 18 de dezembro de 2010

UM MÁGICO

Magro, sujo e solitário, José vivia em meio à pobreza, representada pelos velhos cobertores que carregava consigo, pelas caixas de papelão, na maioria das vezes sua moradia e as ruas da pequena cidade do interior, onde ele sentia-se em casa. Era muito comum encontrá-lo na rua, manco, barbas brancas, calça bege amarrada com barbante, um saco nas costas e uma bengala improvisada com cabo de vassoura, porém, um sorriso extraordinariamente cativante, capaz de causar inveja a qualquer burguês nascido em berço de ouro blasfemador da vida. Não se sabe exatamente nada a seu respeito, somente que anos atrás ele aparecera na cidade, adotando como profissão o Andarilhismo. Percebe-se nele um sotaque nordestino, mas documentos, registros históricos e fatos contados, nada. José tinha o costume de banhar-se em um pequeno açude perto do principal esgoto da cidade, também freqüentado por banhistas, pivetes e playboys. Só que José era dotado de uma inocência fora do normal, sem se importar com o maquiavelismo dos cidadãos freqüentadores do lugar, ele saia completamente nu. Isso mesmo! Nuzinho da silva! Deixando todos boquiabertos.
- Tá um calor aqui, né? – Perguntava para as pessoas.
Sem obter respostas ele entrava na água, mergulhava, cantava, sorria, vivia. Apesar de viver de esmolas, caridade e frutas no caminho, era feliz. Pobre, solitário, mendigo, contudo, feliz. Andarilho, emigrante, miserável, mas extraordinariamente feliz. As crianças gostavam dele, apesar de não ter um rosto bonito, boas vestimentas, sabia brincar, conversar, ouvir. Quando sorria, não havia menino ou menina que não gargalhava, era a simpatia em pessoa. Famílias saiam no portão para ouvi-lo, contava anedotas, falava do tempo, fazia perguntas e sorria. Amava os bebês, toda vez que ele via um, seus olhos brilhavam, sua face refletia uma luz que deveras parecia celestial.
- Parece um anjin, né? Eita minino bunito!
- É seu Zé, já faz dois meses que ele nasceu.
- Já tá grandão, óia só que braço forte!
- Puxou pro pai!
Cristão praticante, sempre presente nas cerimônias religiosas. Não havia chuva, vento ou sol que o impedia de ir à igreja. Muitas vezes chegava molhado, sujo, entretanto, sua presença era inestimável, pelo menos nas regiões celestiais. Sofria preconceito? Sim, muito, afinal que pessoa bem vestida, perfumada e enjoiada, sentaria perto de um velho, sujo, molhado, rasgado? Isso acontece muito em nossa sociedade, principalmente nas igrejas. José foi apenas um dos muitos que já sofreram essas injustiças. Preocupadas em vestir-se para os outros, mostrarem as roupas da moda, desfilar em pleno chão sagrado, os “cristãos” nem percebiam a “jóia preciosa” presente em todas as cerimônias, com louvores sinceros, fé inabalável, atitudes incomparáveis. Nas muitas das vezes podia ser comparado com a viúva pobre presente nos livros de Marcos e Lucas, ao deixar como oferta sua única e insignificante moeda, entretanto valorosa comparada à situação financeira em que vivia.
Com o passar do tempo, José já não se fazia presente nas ruas como antes, andava meio cabisbaixo e o brilho do seu sorriso ia se apagando. As crianças já não brincavam como antes, as famílias não saíam como outrora, o açude estava praticamente deserto. A partir do momento que José mudou, os bairros mudaram, as ruas mudaram, a cidade mudou e tudo ficou cinzento. Os circos não proporcionavam a mesma alegria, o palhaço tornou-se corrupto e passou a viver somente pelo dinheiro, os habitantes da cidade caíram na velha rotina: Casa, trabalho, casa. Garrafas, sacolas, lixo, era tudo que se via nas ruas.
- Pai! Aonde tá aquele velhinho que vinha aqui em casa?
- Não sei meu filho, não sei...
Noite de inverno, a chuva descia lentamente nos telhados simples das casinhas simples dos bairros simples, ouviam-se as gotas caindo nas poças formadas ao redor da parede, os papéis eram levados pelas pequenas correntezas formadas nas calçadas e a lua brilhava. Olhando para o alto, os pingos da chuva eram visíveis devido à sua luminosidade, ouvia-se o som dos ventos, os zunidos das árvores, o canto dos pássaros, molhados, gelados, parados no anoitecer. Meia noite o sino toca, e deitado na porta da igreja estava José, embrulhado com o velho cobertor. Ele tremia, gemia, rugia, embora com frio, olhou para o alto e uma luz refletiu em seu rosto. O homem triste sorriu, junto com o renascimento do sorriso renasceu em seu interior uma esperança, em seus olhos um brilho, em seu coração um novo sopro de vida. Naquela mesma noite José morreu.


" [...] era um mágico que com sua simplicidade de homem do campo conseguia transformar  tristezas em alegrias." 
                                                                                   (Jucinei Rocha dos Santos - 2010)

O início de uma longa caminhada

   Esse blog tem como finalidade compartilhar histórias criadas e vividas por mim e alguns amigos. Portanto, sejam livres para opinar, compartilhar, criticar ( De preferência críticas construtivas) e seguir.
  Acredito que temos muito a aprender, e nada melhor do que aprender com as experiências dos amigos. Como dizia André Rubim, Inteligente é aquele que aprende com os erros que cometeu, mais inteligente, ainda, é aquele que aprende com os erros dos outros.
   Juntos podemos produzir algo que seja útil para o crescimento e desenvolvimento da nossa cultura (que ultimamente vem decrescendo), principalmente na área da literatura.

Atenciosamente
Jucinei Rocha dos Santos